O HOMEM DA ESQUINA
Há sempre um
homem na esquina armado de palavras,
Pronto pra lhe
explicar certos porquês
E as vezes razão
dá ao que não tem razão.
Fica o “homem”
ali então, horas e horas da vida.
As vezes troca
de chapéu; ele não usa chapéu.
Troca de
sapatos, camisa e segue assim, assim:
Um vermelho
irritado, radical,
Noutro dia
branco simples, calmaria.
Faça sol, chova
canivete aberto,
Lá estará o
homem, por certo, parado na esquina
Convicto de que
faz algo de bom pelo resto da humanidade.
Se você passa e
não o vê, ele lhe chama,
Não tenha
dúvidas.
Se você nunca
passou por ali
Ele
pacientemente lhe espera.
Se você passa
indiferente,
Ele pigarreia e
se faz notar.
Se você finge
não vê-lo, ele atira uma pedra.
Está sempre ali
na esquina desde outros carnavais,
Desde há muito,
Desde quando só
Deus é quem sabe;
E olha que Deus
não revela pra ninguém
A precisão da
data.
Lá está o homem
da esquina
Na sua dialética
pregoeira
Na sua palavrática bibliomaníaca.
Ah! Se você
discordar
Ele lhe explica
por A mais B.
Se você
interroga o esquineiro
Tem assunto pra
mais de metro
Se você concorda
pura e simplesmente,
Ele lhe agride
com pontos de interrogação.
O homem da
esquina tem sempre uma pausa,
Um adendo, uma
frase feita sem sentido.
E se você
vacilar poderia cair no conto da gaiola
Com um gato
dentro, pra na falta de assunto
Ele lhe explicar
que o gato ali está de castigo,
Por ter
comido o canarinho Belga
Que havia ganho
numa aposta
De corrida de
cavalos na cidade de Uberabinha
Na época do fim
de ano, quando ele lá fora,
Pra visitar sua
família, tias e avós etc, etc, etc.
O homem da
esquina se diz poeta , poeta não é.
Apregoa ser
músico, mas música não faz.
Se diz escritor
mas só escreve notas de rodapé.
O homem da
esquina está morrendo,
De cansaço e de câncer.
Por favor, não
faça preces por ele,
E quando ele
morrer, meu irmão,
Desinfetemos a
esquina,
Pra que tudo ali
se renove
E os tempos
sejam outros.
A LUA EMPUTECIDA
(aos
amigos da Praça Maldita)
Cena Primeira,
ao som de Rua 57....
Fomos nomeados
navegantes
O gigante sem
par,
O errante sem
velas
E por entre
arrecifes
Perambulou,
pularam nossas jaquetas
Jeans story
music Center.
Atrelados aos
grupos pensantes
Pisamos nas
idéias
E cada um de nós
massageou
Sua cáca
craniana.
Tirando cascas
da cratera do nariz
Fomos à raiz da
coisa
Buscamos a rima
e quiçá
Um jato de
sangue.
Cena segunda (ao
som de Clarice)
Fomos recebidos
pela velhinha arqueada
Que nos ofereceu
chá e veneno.
Bebemos o ópio e
recusamos o chá,
E nos perdemos
numa selva sem cachorro.
Um de nós tinha
o fantástico hábito
De andar para
trás e chegou primeiro,
Não nos mandou
notícias,
Só a corda range
até hoje
Aonde seu corpo
dança enforcado
Sorrindo aos que
passam.
Entre ato (mesmo
tema musical)
Nós queríamos
sair livres
Mas a fragata
não perdoa,
Atolamos até o
pescoço
Num mar de
merda.
Final da segunda
cena:
Outro pensou que
era sonho
E cantou poesia,
endoideceu.
Agora não há
mais ponto de partida
O princípio era.
Cena outra ( ao
som de Benavon)
Éramos do mundo
E nele estávamos
viajando,
E o pior é que
durante
Todo esse, tempo
fomos enfraquecendo
E daquela lúdica
meninice,
Daquele ar
aventureiro e sem razão,
Fomos criando
carcaças
E ocorreram
mentiras,
Desavenças e
traições,
Como nos livros,
como nos filmes
E nós não
queríamos assumir.
Mas éramos
cristãos como todos os outros,
Gananciosos,
ignorantes e fúteis
E quem nos
provou isto:
A fila no
hospital das trevas?
A perna amputada
dos dias?
A dor corroendo
nossos corações?
A podridão
devorando nossas vísceras?
Cena Final ( ao
som de Numa Velha Canção)
E nos atiramos
lama uns nos outros
E pisamos na
flores de todos os jardins.
E arrancando
todas as árvores do mundo
Uma a uma,
Machucamos as
mulheres
E rumamos em
marcha fúnebre
Em busca do
Paraíso.
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