terça-feira, 13 de setembro de 2016

O HOMEM DA ESQUINA

Há sempre um homem na esquina armado de palavras,
Pronto pra lhe explicar certos porquês
E as vezes razão dá ao que não tem razão.
Fica o “homem” ali então, horas e horas da vida.
As vezes troca de chapéu; ele não usa chapéu.
Troca de sapatos, camisa e segue assim, assim:
Um vermelho irritado, radical,
Noutro dia branco simples, calmaria.
Faça sol, chova canivete aberto,
Lá estará o homem, por certo, parado na esquina
Convicto de que faz algo de bom pelo resto da humanidade.

Se você passa e não o vê, ele lhe chama,
Não tenha dúvidas.
Se você nunca passou por ali
Ele pacientemente lhe espera.
Se você passa indiferente,
Ele pigarreia e se faz notar.

Se você finge não vê-lo, ele atira uma pedra.
Está sempre ali na esquina desde outros carnavais,
Desde há muito,
Desde quando só Deus é quem sabe;
E olha que Deus não revela pra ninguém
A precisão da data.
Lá está o homem da esquina
Na sua dialética pregoeira
Na sua  palavrática bibliomaníaca.
Ah! Se você discordar
Ele lhe explica por A mais B.
Se você interroga o esquineiro
Tem assunto pra mais de metro
Se você concorda pura e simplesmente,
Ele lhe agride com pontos de interrogação.
O homem da esquina tem sempre uma pausa,
Um adendo, uma frase feita sem sentido.

E se você vacilar poderia cair no conto da gaiola
Com um gato dentro, pra na falta de assunto
Ele lhe explicar que o gato ali está de castigo,
Por ter comido  o canarinho Belga
Que havia ganho numa aposta
De corrida de cavalos na cidade de Uberabinha
Na época do fim de ano, quando ele lá fora,
Pra visitar sua família, tias e avós etc, etc, etc.

O homem da esquina se diz poeta , poeta não é.
Apregoa ser músico, mas música não faz.
Se diz escritor mas só escreve notas de rodapé.
O homem da esquina está morrendo,
De cansaço e de câncer.
Por favor, não faça preces por ele,
E quando ele morrer, meu irmão,
Desinfetemos a esquina,
Pra que tudo ali se renove
E os tempos sejam outros.  





















A LUA EMPUTECIDA

(aos amigos da Praça Maldita)
Cena Primeira, ao som de Rua 57....

Fomos nomeados navegantes
O gigante sem par,
O errante sem velas
E por entre arrecifes
Perambulou, pularam nossas jaquetas
Jeans story music Center.
Atrelados aos grupos pensantes
Pisamos nas idéias
E cada um de nós massageou
Sua cáca craniana.
Tirando cascas da cratera do nariz
Fomos à raiz da coisa
Buscamos a rima e quiçá
Um jato de sangue.

Cena segunda (ao som de Clarice)
Fomos recebidos pela velhinha arqueada
Que nos ofereceu chá e veneno.
Bebemos o ópio e recusamos o chá,
E nos perdemos numa selva sem cachorro.
Um de nós tinha o fantástico hábito
De andar para trás e chegou primeiro,
Não nos mandou notícias,
Só a corda range até hoje
Aonde seu corpo dança enforcado
Sorrindo aos que passam.

Entre ato (mesmo tema musical)

Nós queríamos sair livres
Mas a fragata não perdoa,
Atolamos até o pescoço
Num mar de merda.

Final da segunda cena:
Outro pensou que era sonho
E cantou poesia, endoideceu.
Agora não há mais ponto de partida
O princípio era.

Cena outra ( ao som de Benavon)
Éramos do mundo
E nele estávamos viajando,
E o pior é que durante
Todo esse, tempo fomos enfraquecendo
E daquela lúdica meninice,
Daquele ar aventureiro e sem razão,
Fomos criando carcaças
E ocorreram mentiras,
Desavenças e traições,
Como nos livros, como nos filmes
E nós não queríamos assumir.
Mas éramos cristãos como todos os outros,
Gananciosos, ignorantes e fúteis
E quem nos provou isto:
A fila no hospital das trevas?
A perna amputada dos dias?
A dor corroendo nossos corações?
A podridão devorando nossas vísceras?

Cena Final ( ao som de Numa Velha Canção)

E nos atiramos lama uns nos outros
E pisamos na flores de todos os jardins.
E arrancando todas as árvores do mundo
Uma a uma,
Machucamos as mulheres
E rumamos em marcha fúnebre
Em busca do Paraíso.






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