Convite a todos os amantes de
palavras arranjadas
Imaginem a criança descendo as ladeiras baianas e aportando,
como diria Henfil, no Sul Maravilha, mais precisamente no alto de uma colina
escarpada entre os rios Anhangabaú e Tamanduateí – São Paulo de Piratininga!
Hoje, São Paulo, comoção de nossas vidas, uma metrópoleporto seco, ruas sem
corredeiras e tão corridas. Capital da esperança e do desconhecido. Ladeira da
saudade onde o caminhão, quase sem freio, pau de arara, atravessou ponta a
ponta vindo lá do recôncavo baiano barro seco para o asfalto. Criança chegada
juntinho com a ditadura militar de 64.
Imagine essa criança, menino, crescendo nas vilas de uma São
Paulo em tempos de garoa cantado nas liras dos Andrades e, de tanto lirismo,
foi lá na frente, jovem – hoje passado – forjar-se em Lira Paulistana. Da
escola até a praça maldita cheia de árvores, com os amigos de prosa, poesia e
criação, muita água se passou por baixo, por cima e por dentro do menino, do
moço e do homem maduro baiano e hoje tão paulistano.
Imagine esse homem na porta de um teatro, correndo pela coxia
e sentado na platéia. Dê a ele uma caneta, um papel, a voz e vejamos o que
virará – vira poeta, desses de fazer jus à tradição baiana e de uma vanguarda
paulistana – vai de Castro Alves até Gilberto Gil, vai de
Dorival Caymmi até Wally Salomão,vai da Bossa Nova até os dias de São Cosme e
Damião.
Imaginemos então poeta, arranjador de palavras, no papel
virtual da vida. Colecionador de tantas letras pelo caminho, que fez das
palavras pura poesia olhando pela vidraça e viu – fazia disto tudo ofício de
educar nossas emoções e hoje outras tantas crianças. A carne, de tão viva e sem
saída, dizia que não havia mais nenhum leão sentado na pedra. O real
fragmentado, ao lado, tornou-se palavras para nossa leitura.
Agora, já não cabe mais imaginarmos. O homem, aquele mesmo
que escreve por vício, cheio de vida, mais uma vez faz-se exemplo de beleza, de
estética, de ofício mais que ético, pois é poeta. Toda essa poesia é um sol em
nossas vidas vindo da infância e nos levando para o mar. E depois? A gente faz
um acordo então – viremos essas páginas, uma a uma, na ordem que nossas emoções
e razão desejarem. E depois? Bem, depois a gente pode se encontrar em uma
destas praças reais ou virtuais e compartilhar o que sentimos com o tanto de
poesia desse nobre amigo, cheio de música e de uma espiritualidade poética,
J. Cordeirovich.
Alessandro Ayudarte, ano de 2015.
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