quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Desarranjando o tempo!






in O arranjador de palavras.

Trama contra nós o poeta, tece a trama, põe a prova notívagos poemas.
Traçar aqui o itinerário do tempo de um poeta, seria lugar comum, todos adjetivos seriam poucos, nem isso nem aquilo. Cautela, ele está a organizar e arranjar palavras.

Na gênese, no princípio era o caos e ele habitava uma rua, sob um telhado qualquer, fel e mel no mesmo céu, repetindo, tece a trama em nubívagos poemas.
Antrópico, destila, reduz e retém o tempo. Reter o tempo no seu ínfimo tempo, - pois o tempo também tem seu tempo -, suspenso no ar, caminha e desliza na dança da luz, num átimo.
A causa: um “A” e um “B”, gênese de tudo.

Como responder-te? “Vais violar as primaveras verdejantes?” – como quer Maiakovski – ou Vais organizar o caos? – como querem os Gregos -.

Ato I

Como seria a minha vida se, numa noite a bordo do ônibus 255, Praça da Alegria, movido pela curiosidade, tive a iniciativa de abordar um sabido poeta, morador a poucos passos de casa.

Noite adentro, a esquina da Goretti com a Agostinho Ferreira foi testemunha desse encontro. Não tive a exata dimensão do que se‘avizinharia’ desse encontro, mas sei que ali se instalaria a dimensão de um homem:
O poeta, o prestidigitador nas horas vagas, o cantor e o ator. Artesão de todos esses os ofícios.

Ato II

Consta no Primeiro caderno do aluno de poesia José Carlos Cordeiro, ainda não o “Arranjador’, escrito está:
“A”, com toda a glória de um “A”, viu ali o princípio do caos e o seu peso abstrato.
Já o “B” tinha também a glória de um “B”, caos maior, juntou ao “A” o “B”, daí para o “Z” foi um pulo.

O dervixe poeta, mal sabia que sentidos teriam, vai a esmo, ao léu, carrega as tintas, derrama-lhe sentidos, dito assim parece fácil, mas e o caos?
Elegante e generoso que é, põe de lado folhas caóticas, organiza o caos.
Tartamudeando, portou palavra e lâmina, usou as duas – não necessariamente nessa ordem – do bolso sacou lírios e vidros, ofertou-os sem pedir nada em troca, não há o que entender, há o que pensar. Não me venhas com definições! Sou o que sou, “Narciso dos pretos.”

Ato III
Alumbramento é o que há e reside em O Arranjador de palavras.
Ato IV
“Ela ficou a pensar e a pensar eu também me pus”
Ambos, poeta e poesia gladiaram os sentidos do pensar, degrau a degrau, verso a verso, ouve-se música, ainda que a palavra tenha o cortante sentido, sai suave, de tão leve flutua azulando o ar. O tempo! O tempo parou, repito, retém-se o tempo, o instante fixa-se. Eis o instante! Foi-se, durou o que durou, mas a música ficou.
“...Perduro no âmbito das palavras
Nascidas da falta
De silêncio do nada”

Ato V (dos conselhos dos poetas)

O velho poeta, aconselha: Encontrar uma janela favorita e ler até arderem os olhos,
dos teus poemas favoritos.

Um poeta concreto, determina: Escalar até doer-te os pés,  
dos teus poemas favoritos.

Um poeta métrico, calcula: Medir lágrimas e pesar sorrisos,
dos teus poemas favoritos.

Ato VI

O indelével “A”, persiste, o caos agora é alegoria, é só o “A”, o derradeiro “A”, se assemelha ao primeiro, porém com a cor, a música e seus fabricos. Agricultor e Arranjador de Palavras, soletradas no arado da garganta, semeadas em folhas, são flores e seus perfumes, ditas a seu tempo, ao seu ritmo, são límpidas, alimento aos olhos e ouvidos. A colheita é farta!


Bem-vindos aos Arranjos, letra e música. 

CELIO ANTONIO MANSO 


Um comentário:

  1. Um golpe de carinho.
    Segue meu irmão, segue!
    Deixa teu rastro,
    sopra aos ouvidos versos e versos.
    Suave é tua música e fala.

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