quarta-feira, 7 de dezembro de 2016






“CD – EU, TU, NOZES E VOZES” 1ª Audição.
Mano Réu, limpando o pigarro da voz propositadamente, diz quase tudo na abertura deste CD, “Eu,Tu, Nozes e Vozes” produzido em parceria: Fórum de Cultura Cena Norte com apoio dos Estúdio da Fábrica de Cultura Jaçanã, trazendo à cena dez autores e suas inéditas canções. Num pulso forte da batida ele solta suas palavras críticas a respeito da nossa aterradora realidade com a dor que nos une e iguala se “o bocejo contagia imagina o amor?”.
Ótima abertura que a seguir deixa que “ Os Outros e Anna Satt”, soltem seus chorus que falam do amor sem o qual “não se deve” viver. E o suing dessa menina moça e sua galera tem pegada funk, ares de hip-hop  na certa e vai além disto, pois a boca aberta e o olho arregalado na capa na arte de Sérgio Santos, mostram que tem muito mais ali, naquele CD do Cena Norte, da Zona Norte de SP, com sua música do Brasil, melhor: música pro mundo.
Pois é André Moraes, de quem depois falo mais, que com arranjo bem elaborado na 3ª faixa, nos chama pra “Rua”, na parceria vocal com Fernando Diniz, nos enche de prosa-poesia e relembrando o passado da rua, nos mostra o tempo presente em quase marcha rancho. Bora pra rua pois só quem anda tem um caminho a seguir.  
Noutro viés, “Duo sem Glúten” e seu piano forte e preciso de Natália Zanetti, e a voz doce de Carla Calado questionam o discurso dizendo em “Segredo” : 4ª faixa do CD, “pra que palavras se o olhar diz tudo...até o que o coração teima em guardar”. E se o Duo  chama pro silêncio é no violão quase sumido e chorus calado de Vladinsky que a seguir Cordeirovich,  na 5ª faixa do CD em “Blade Runner, a canção”, pede uma revolução.
 No já quase silêncio ouve-se o som mágico de uma citaria que faz cama perfeita para que César Magalhães, André Mola e Bião dêem seu recado na canção “O Príncipe da Paz” 6ª faixa do CD: pois  o amor citará o sonho que em si trará. O Poeta fala do homem e seu tempo, das muitas vidas que tem numa vida só, sendo ser social e todas as linguagens e papéis.
Mas este CD não para  por ai pois como numa escala ascendente ouve-se na 7ª faixa do CD, violão quase “galopeiro”, que vai falar da terra pois Jefferson e Reinaldo em  “O semeador do Asfalto” com seu “Acalanto” vai “em meio as terras deste sertão..dizer: eu plantei minha fé, e só colhi ilusão”.
 Quando você pensa em ficar só nas reflexões propiciadas até então pelo CD, vem na 8ª faixa do CD os sons do surdão, pandeiro, violão e a voz forte de Cris Pires cantando “Minha Verdade”,  pois ela é madeira e a gente ouvindo, é sério; se põe a sambar pois a negritude dela vem com arrojo e vem cheia de afrodescendencias. E agrada!
E já de pé, pra continuar gingando no som “Calango Soul” na 9ª Faixa do CD, nos faz cantar seu refrão pois: vai da pé! O soul, o suing bota fé na canoa e nos chama pra tocar em frente, pois com toda certeza “Cena Norte” vai da pé.
E já que tá dando pé, os naipes de metal na 10ª faixa do CD, anunciam a chegada da levada reggae do Alma Livre, no seu “E agora José?”: valeu, valeu!...siga o seu caminho que eu sigo o meu; mas siga ouvindo o CD Cena Norte, com suas belas composições,  captados com competência pelos técnicos: Diego  Cordes e Renato Pressutto responsáveis pela mixagem,  a direção de mixagem feita por André Moraes, a direção musical desse trio: Israel Neto (Mano Réu), Agnaldo Alves e André Moraes, um especial parabéns ao trio, que trabalhou muito pra harmonizar sonoridades diversas e organizá-los com beleza e precisão. Meninos saquei tudo.....ficou um ótimo resultado de mixagem e organização da ordem no som e sou suspeito pra falar, pois tô dentro até o pescoço (rsrsrs).
Belo encarte com fotos de Jussara Teça, Marcelly Boccia, Projeto Gráfico de Thiago Ruivo e Sérgio Santos e a Produção Executiva do Fórum de Cultura CENA NORTE. Valeu!


terça-feira, 27 de setembro de 2016

terça-feira, 13 de setembro de 2016

O HOMEM DA ESQUINA

Há sempre um homem na esquina armado de palavras,
Pronto pra lhe explicar certos porquês
E as vezes razão dá ao que não tem razão.
Fica o “homem” ali então, horas e horas da vida.
As vezes troca de chapéu; ele não usa chapéu.
Troca de sapatos, camisa e segue assim, assim:
Um vermelho irritado, radical,
Noutro dia branco simples, calmaria.
Faça sol, chova canivete aberto,
Lá estará o homem, por certo, parado na esquina
Convicto de que faz algo de bom pelo resto da humanidade.

Se você passa e não o vê, ele lhe chama,
Não tenha dúvidas.
Se você nunca passou por ali
Ele pacientemente lhe espera.
Se você passa indiferente,
Ele pigarreia e se faz notar.

Se você finge não vê-lo, ele atira uma pedra.
Está sempre ali na esquina desde outros carnavais,
Desde há muito,
Desde quando só Deus é quem sabe;
E olha que Deus não revela pra ninguém
A precisão da data.
Lá está o homem da esquina
Na sua dialética pregoeira
Na sua  palavrática bibliomaníaca.
Ah! Se você discordar
Ele lhe explica por A mais B.
Se você interroga o esquineiro
Tem assunto pra mais de metro
Se você concorda pura e simplesmente,
Ele lhe agride com pontos de interrogação.
O homem da esquina tem sempre uma pausa,
Um adendo, uma frase feita sem sentido.

E se você vacilar poderia cair no conto da gaiola
Com um gato dentro, pra na falta de assunto
Ele lhe explicar que o gato ali está de castigo,
Por ter comido  o canarinho Belga
Que havia ganho numa aposta
De corrida de cavalos na cidade de Uberabinha
Na época do fim de ano, quando ele lá fora,
Pra visitar sua família, tias e avós etc, etc, etc.

O homem da esquina se diz poeta , poeta não é.
Apregoa ser músico, mas música não faz.
Se diz escritor mas só escreve notas de rodapé.
O homem da esquina está morrendo,
De cansaço e de câncer.
Por favor, não faça preces por ele,
E quando ele morrer, meu irmão,
Desinfetemos a esquina,
Pra que tudo ali se renove
E os tempos sejam outros.  





















A LUA EMPUTECIDA

(aos amigos da Praça Maldita)
Cena Primeira, ao som de Rua 57....

Fomos nomeados navegantes
O gigante sem par,
O errante sem velas
E por entre arrecifes
Perambulou, pularam nossas jaquetas
Jeans story music Center.
Atrelados aos grupos pensantes
Pisamos nas idéias
E cada um de nós massageou
Sua cáca craniana.
Tirando cascas da cratera do nariz
Fomos à raiz da coisa
Buscamos a rima e quiçá
Um jato de sangue.

Cena segunda (ao som de Clarice)
Fomos recebidos pela velhinha arqueada
Que nos ofereceu chá e veneno.
Bebemos o ópio e recusamos o chá,
E nos perdemos numa selva sem cachorro.
Um de nós tinha o fantástico hábito
De andar para trás e chegou primeiro,
Não nos mandou notícias,
Só a corda range até hoje
Aonde seu corpo dança enforcado
Sorrindo aos que passam.

Entre ato (mesmo tema musical)

Nós queríamos sair livres
Mas a fragata não perdoa,
Atolamos até o pescoço
Num mar de merda.

Final da segunda cena:
Outro pensou que era sonho
E cantou poesia, endoideceu.
Agora não há mais ponto de partida
O princípio era.

Cena outra ( ao som de Benavon)
Éramos do mundo
E nele estávamos viajando,
E o pior é que durante
Todo esse, tempo fomos enfraquecendo
E daquela lúdica meninice,
Daquele ar aventureiro e sem razão,
Fomos criando carcaças
E ocorreram mentiras,
Desavenças e traições,
Como nos livros, como nos filmes
E nós não queríamos assumir.
Mas éramos cristãos como todos os outros,
Gananciosos, ignorantes e fúteis
E quem nos provou isto:
A fila no hospital das trevas?
A perna amputada dos dias?
A dor corroendo nossos corações?
A podridão devorando nossas vísceras?

Cena Final ( ao som de Numa Velha Canção)

E nos atiramos lama uns nos outros
E pisamos na flores de todos os jardins.
E arrancando todas as árvores do mundo
Uma a uma,
Machucamos as mulheres
E rumamos em marcha fúnebre
Em busca do Paraíso.








Convite a todos os amantes de palavras arranjadas

Imaginem a criança descendo as ladeiras baianas e aportando, como diria Henfil, no Sul Maravilha, mais precisamente no alto de uma colina escarpada entre os rios Anhangabaú e Tamanduateí – São Paulo de Piratininga! Hoje, São Paulo, comoção de nossas vidas, uma metrópoleporto seco, ruas sem corredeiras e tão corridas. Capital da esperança e do desconhecido. Ladeira da saudade onde o caminhão, quase sem freio, pau de arara, atravessou ponta a ponta vindo lá do recôncavo baiano barro seco para o asfalto. Criança chegada juntinho com a ditadura militar de 64.
Imagine essa criança, menino, crescendo nas vilas de uma São Paulo em tempos de garoa cantado nas liras dos Andrades e, de tanto lirismo, foi lá na frente, jovem – hoje passado – forjar-se em Lira Paulistana. Da escola até a praça maldita cheia de árvores, com os amigos de prosa, poesia e criação, muita água se passou por baixo, por cima e por dentro do menino, do moço e do homem maduro baiano e hoje tão paulistano.
Imagine esse homem na porta de um teatro, correndo pela coxia e sentado na platéia. Dê a ele uma caneta, um papel, a voz e vejamos o que virará – vira poeta, desses de fazer jus à tradição baiana e de uma vanguarda paulistana – vai de Castro Alves até Gilberto Gil, vai de Dorival Caymmi até Wally Salomão,vai da Bossa Nova até os dias de São Cosme e Damião.
Imaginemos então poeta, arranjador de palavras, no papel virtual da vida. Colecionador de tantas letras pelo caminho, que fez das palavras pura poesia olhando pela vidraça e viu – fazia disto tudo ofício de educar nossas emoções e hoje outras tantas crianças. A carne, de tão viva e sem saída, dizia que não havia mais nenhum leão sentado na pedra. O real fragmentado, ao lado, tornou-se palavras para nossa leitura.
Agora, já não cabe mais imaginarmos. O homem, aquele mesmo que escreve por vício, cheio de vida, mais uma vez faz-se exemplo de beleza, de estética, de ofício mais que ético, pois é poeta. Toda essa poesia é um sol em nossas vidas vindo da infância e nos levando para o mar. E depois? A gente faz um acordo então – viremos essas páginas, uma a uma, na ordem que nossas emoções e razão desejarem. E depois? Bem, depois a gente pode se encontrar em uma destas praças reais ou virtuais e compartilhar o que sentimos com o tanto de poesia desse nobre amigo, cheio de música e de uma espiritualidade poética, J.  Cordeirovich.
                                                                 Alessandro Ayudarte, ano de 2015.



quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Desarranjando o tempo!






in O arranjador de palavras.

Trama contra nós o poeta, tece a trama, põe a prova notívagos poemas.
Traçar aqui o itinerário do tempo de um poeta, seria lugar comum, todos adjetivos seriam poucos, nem isso nem aquilo. Cautela, ele está a organizar e arranjar palavras.

Na gênese, no princípio era o caos e ele habitava uma rua, sob um telhado qualquer, fel e mel no mesmo céu, repetindo, tece a trama em nubívagos poemas.
Antrópico, destila, reduz e retém o tempo. Reter o tempo no seu ínfimo tempo, - pois o tempo também tem seu tempo -, suspenso no ar, caminha e desliza na dança da luz, num átimo.
A causa: um “A” e um “B”, gênese de tudo.

Como responder-te? “Vais violar as primaveras verdejantes?” – como quer Maiakovski – ou Vais organizar o caos? – como querem os Gregos -.

Ato I

Como seria a minha vida se, numa noite a bordo do ônibus 255, Praça da Alegria, movido pela curiosidade, tive a iniciativa de abordar um sabido poeta, morador a poucos passos de casa.

Noite adentro, a esquina da Goretti com a Agostinho Ferreira foi testemunha desse encontro. Não tive a exata dimensão do que se‘avizinharia’ desse encontro, mas sei que ali se instalaria a dimensão de um homem:
O poeta, o prestidigitador nas horas vagas, o cantor e o ator. Artesão de todos esses os ofícios.

Ato II

Consta no Primeiro caderno do aluno de poesia José Carlos Cordeiro, ainda não o “Arranjador’, escrito está:
“A”, com toda a glória de um “A”, viu ali o princípio do caos e o seu peso abstrato.
Já o “B” tinha também a glória de um “B”, caos maior, juntou ao “A” o “B”, daí para o “Z” foi um pulo.

O dervixe poeta, mal sabia que sentidos teriam, vai a esmo, ao léu, carrega as tintas, derrama-lhe sentidos, dito assim parece fácil, mas e o caos?
Elegante e generoso que é, põe de lado folhas caóticas, organiza o caos.
Tartamudeando, portou palavra e lâmina, usou as duas – não necessariamente nessa ordem – do bolso sacou lírios e vidros, ofertou-os sem pedir nada em troca, não há o que entender, há o que pensar. Não me venhas com definições! Sou o que sou, “Narciso dos pretos.”

Ato III
Alumbramento é o que há e reside em O Arranjador de palavras.
Ato IV
“Ela ficou a pensar e a pensar eu também me pus”
Ambos, poeta e poesia gladiaram os sentidos do pensar, degrau a degrau, verso a verso, ouve-se música, ainda que a palavra tenha o cortante sentido, sai suave, de tão leve flutua azulando o ar. O tempo! O tempo parou, repito, retém-se o tempo, o instante fixa-se. Eis o instante! Foi-se, durou o que durou, mas a música ficou.
“...Perduro no âmbito das palavras
Nascidas da falta
De silêncio do nada”

Ato V (dos conselhos dos poetas)

O velho poeta, aconselha: Encontrar uma janela favorita e ler até arderem os olhos,
dos teus poemas favoritos.

Um poeta concreto, determina: Escalar até doer-te os pés,  
dos teus poemas favoritos.

Um poeta métrico, calcula: Medir lágrimas e pesar sorrisos,
dos teus poemas favoritos.

Ato VI

O indelével “A”, persiste, o caos agora é alegoria, é só o “A”, o derradeiro “A”, se assemelha ao primeiro, porém com a cor, a música e seus fabricos. Agricultor e Arranjador de Palavras, soletradas no arado da garganta, semeadas em folhas, são flores e seus perfumes, ditas a seu tempo, ao seu ritmo, são límpidas, alimento aos olhos e ouvidos. A colheita é farta!


Bem-vindos aos Arranjos, letra e música. 

CELIO ANTONIO MANSO