Momentos do CENANORTE 2016.
segunda-feira, 26 de dezembro de 2016
quarta-feira, 7 de dezembro de 2016
“CD – EU, TU, NOZES E
VOZES” 1ª Audição.
Mano Réu, limpando o pigarro da voz propositadamente, diz
quase tudo na abertura deste CD, “Eu,Tu, Nozes e Vozes” produzido em parceria:
Fórum de Cultura Cena Norte com apoio dos Estúdio da Fábrica de Cultura Jaçanã,
trazendo à cena dez autores e suas inéditas canções. Num pulso forte da batida
ele solta suas palavras críticas a respeito da nossa aterradora realidade com a
dor que nos une e iguala se “o bocejo contagia imagina o amor?”.
Ótima abertura que a seguir deixa que “ Os Outros e Anna Satt”,
soltem seus chorus que falam do amor sem o qual “não se deve” viver. E o suing
dessa menina moça e sua galera tem pegada funk, ares de hip-hop na certa e vai além disto, pois a boca aberta
e o olho arregalado na capa na arte de Sérgio Santos, mostram que tem muito
mais ali, naquele CD do Cena Norte, da Zona Norte de SP, com sua música do
Brasil, melhor: música pro mundo.
Pois é André Moraes, de quem depois falo mais, que com
arranjo bem elaborado na 3ª faixa, nos chama pra “Rua”, na parceria vocal com
Fernando Diniz, nos enche de prosa-poesia e relembrando o passado da rua, nos
mostra o tempo presente em quase marcha rancho. Bora pra rua pois só quem anda
tem um caminho a seguir.
Noutro viés, “Duo sem Glúten” e seu piano forte e preciso de Natália
Zanetti, e a voz doce de Carla Calado questionam o discurso dizendo em
“Segredo” : 4ª faixa do CD, “pra que palavras se o olhar diz tudo...até o que o
coração teima em guardar”. E se o Duo
chama pro silêncio é no violão quase sumido e chorus calado de Vladinsky
que a seguir Cordeirovich, na 5ª faixa
do CD em “Blade Runner, a canção”, pede uma revolução.
No já quase silêncio
ouve-se o som mágico de uma citaria que faz cama perfeita para que César
Magalhães, André Mola e Bião dêem seu recado na canção “O Príncipe da Paz” 6ª
faixa do CD: pois o amor citará o sonho que
em si trará. O Poeta fala do homem e seu tempo, das muitas vidas que tem numa
vida só, sendo ser social e todas as linguagens e papéis.
Mas este CD não para
por ai pois como numa escala ascendente ouve-se na 7ª faixa do CD,
violão quase “galopeiro”, que vai falar da terra pois Jefferson e Reinaldo
em “O semeador do Asfalto” com seu
“Acalanto” vai “em meio as terras deste sertão..dizer: eu plantei minha fé, e
só colhi ilusão”.
Quando você pensa em
ficar só nas reflexões propiciadas até então pelo CD, vem na 8ª faixa do CD os
sons do surdão, pandeiro, violão e a voz forte de Cris Pires cantando “Minha
Verdade”, pois ela é madeira e a gente
ouvindo, é sério; se põe a sambar pois a negritude dela vem com arrojo e vem
cheia de afrodescendencias. E agrada!
E já de pé, pra continuar gingando no som “Calango Soul” na
9ª Faixa do CD, nos faz cantar seu refrão pois: vai da pé! O soul, o suing bota
fé na canoa e nos chama pra tocar em frente, pois com toda certeza “Cena Norte”
vai da pé.
E já que tá dando pé, os naipes de metal na 10ª faixa do CD,
anunciam a chegada da levada reggae do Alma Livre, no seu “E agora José?”:
valeu, valeu!...siga o seu caminho que eu sigo o meu; mas siga ouvindo o CD
Cena Norte, com suas belas composições, captados com competência pelos técnicos:
Diego Cordes e Renato Pressutto
responsáveis pela mixagem, a direção de
mixagem feita por André Moraes, a direção musical desse trio: Israel Neto (Mano
Réu), Agnaldo Alves e André Moraes, um especial parabéns ao trio, que trabalhou
muito pra harmonizar sonoridades diversas e organizá-los com beleza e precisão.
Meninos saquei tudo.....ficou um ótimo resultado de mixagem e organização da
ordem no som e sou suspeito pra falar, pois tô dentro até o pescoço (rsrsrs).
Belo encarte com fotos de Jussara Teça, Marcelly Boccia,
Projeto Gráfico de Thiago Ruivo e Sérgio Santos e a Produção Executiva do Fórum
de Cultura CENA NORTE. Valeu!
terça-feira, 13 de setembro de 2016
O HOMEM DA ESQUINA
Há sempre um
homem na esquina armado de palavras,
Pronto pra lhe
explicar certos porquês
E as vezes razão
dá ao que não tem razão.
Fica o “homem”
ali então, horas e horas da vida.
As vezes troca
de chapéu; ele não usa chapéu.
Troca de
sapatos, camisa e segue assim, assim:
Um vermelho
irritado, radical,
Noutro dia
branco simples, calmaria.
Faça sol, chova
canivete aberto,
Lá estará o
homem, por certo, parado na esquina
Convicto de que
faz algo de bom pelo resto da humanidade.
Se você passa e
não o vê, ele lhe chama,
Não tenha
dúvidas.
Se você nunca
passou por ali
Ele
pacientemente lhe espera.
Se você passa
indiferente,
Ele pigarreia e
se faz notar.
Se você finge
não vê-lo, ele atira uma pedra.
Está sempre ali
na esquina desde outros carnavais,
Desde há muito,
Desde quando só
Deus é quem sabe;
E olha que Deus
não revela pra ninguém
A precisão da
data.
Lá está o homem
da esquina
Na sua dialética
pregoeira
Na sua palavrática bibliomaníaca.
Ah! Se você
discordar
Ele lhe explica
por A mais B.
Se você
interroga o esquineiro
Tem assunto pra
mais de metro
Se você concorda
pura e simplesmente,
Ele lhe agride
com pontos de interrogação.
O homem da
esquina tem sempre uma pausa,
Um adendo, uma
frase feita sem sentido.
E se você
vacilar poderia cair no conto da gaiola
Com um gato
dentro, pra na falta de assunto
Ele lhe explicar
que o gato ali está de castigo,
Por ter
comido o canarinho Belga
Que havia ganho
numa aposta
De corrida de
cavalos na cidade de Uberabinha
Na época do fim
de ano, quando ele lá fora,
Pra visitar sua
família, tias e avós etc, etc, etc.
O homem da
esquina se diz poeta , poeta não é.
Apregoa ser
músico, mas música não faz.
Se diz escritor
mas só escreve notas de rodapé.
O homem da
esquina está morrendo,
De cansaço e de câncer.
Por favor, não
faça preces por ele,
E quando ele
morrer, meu irmão,
Desinfetemos a
esquina,
Pra que tudo ali
se renove
E os tempos
sejam outros.
A LUA EMPUTECIDA
(aos
amigos da Praça Maldita)
Cena Primeira,
ao som de Rua 57....
Fomos nomeados
navegantes
O gigante sem
par,
O errante sem
velas
E por entre
arrecifes
Perambulou,
pularam nossas jaquetas
Jeans story
music Center.
Atrelados aos
grupos pensantes
Pisamos nas
idéias
E cada um de nós
massageou
Sua cáca
craniana.
Tirando cascas
da cratera do nariz
Fomos à raiz da
coisa
Buscamos a rima
e quiçá
Um jato de
sangue.
Cena segunda (ao
som de Clarice)
Fomos recebidos
pela velhinha arqueada
Que nos ofereceu
chá e veneno.
Bebemos o ópio e
recusamos o chá,
E nos perdemos
numa selva sem cachorro.
Um de nós tinha
o fantástico hábito
De andar para
trás e chegou primeiro,
Não nos mandou
notícias,
Só a corda range
até hoje
Aonde seu corpo
dança enforcado
Sorrindo aos que
passam.
Entre ato (mesmo
tema musical)
Nós queríamos
sair livres
Mas a fragata
não perdoa,
Atolamos até o
pescoço
Num mar de
merda.
Final da segunda
cena:
Outro pensou que
era sonho
E cantou poesia,
endoideceu.
Agora não há
mais ponto de partida
O princípio era.
Cena outra ( ao
som de Benavon)
Éramos do mundo
E nele estávamos
viajando,
E o pior é que
durante
Todo esse, tempo
fomos enfraquecendo
E daquela lúdica
meninice,
Daquele ar
aventureiro e sem razão,
Fomos criando
carcaças
E ocorreram
mentiras,
Desavenças e
traições,
Como nos livros,
como nos filmes
E nós não
queríamos assumir.
Mas éramos
cristãos como todos os outros,
Gananciosos,
ignorantes e fúteis
E quem nos
provou isto:
A fila no
hospital das trevas?
A perna amputada
dos dias?
A dor corroendo
nossos corações?
A podridão
devorando nossas vísceras?
Cena Final ( ao
som de Numa Velha Canção)
E nos atiramos
lama uns nos outros
E pisamos na
flores de todos os jardins.
E arrancando
todas as árvores do mundo
Uma a uma,
Machucamos as
mulheres
E rumamos em
marcha fúnebre
Em busca do
Paraíso.
Convite a todos os amantes de
palavras arranjadas
Imaginem a criança descendo as ladeiras baianas e aportando,
como diria Henfil, no Sul Maravilha, mais precisamente no alto de uma colina
escarpada entre os rios Anhangabaú e Tamanduateí – São Paulo de Piratininga!
Hoje, São Paulo, comoção de nossas vidas, uma metrópoleporto seco, ruas sem
corredeiras e tão corridas. Capital da esperança e do desconhecido. Ladeira da
saudade onde o caminhão, quase sem freio, pau de arara, atravessou ponta a
ponta vindo lá do recôncavo baiano barro seco para o asfalto. Criança chegada
juntinho com a ditadura militar de 64.
Imagine essa criança, menino, crescendo nas vilas de uma São
Paulo em tempos de garoa cantado nas liras dos Andrades e, de tanto lirismo,
foi lá na frente, jovem – hoje passado – forjar-se em Lira Paulistana. Da
escola até a praça maldita cheia de árvores, com os amigos de prosa, poesia e
criação, muita água se passou por baixo, por cima e por dentro do menino, do
moço e do homem maduro baiano e hoje tão paulistano.
Imagine esse homem na porta de um teatro, correndo pela coxia
e sentado na platéia. Dê a ele uma caneta, um papel, a voz e vejamos o que
virará – vira poeta, desses de fazer jus à tradição baiana e de uma vanguarda
paulistana – vai de Castro Alves até Gilberto Gil, vai de
Dorival Caymmi até Wally Salomão,vai da Bossa Nova até os dias de São Cosme e
Damião.
Imaginemos então poeta, arranjador de palavras, no papel
virtual da vida. Colecionador de tantas letras pelo caminho, que fez das
palavras pura poesia olhando pela vidraça e viu – fazia disto tudo ofício de
educar nossas emoções e hoje outras tantas crianças. A carne, de tão viva e sem
saída, dizia que não havia mais nenhum leão sentado na pedra. O real
fragmentado, ao lado, tornou-se palavras para nossa leitura.
Agora, já não cabe mais imaginarmos. O homem, aquele mesmo
que escreve por vício, cheio de vida, mais uma vez faz-se exemplo de beleza, de
estética, de ofício mais que ético, pois é poeta. Toda essa poesia é um sol em
nossas vidas vindo da infância e nos levando para o mar. E depois? A gente faz
um acordo então – viremos essas páginas, uma a uma, na ordem que nossas emoções
e razão desejarem. E depois? Bem, depois a gente pode se encontrar em uma
destas praças reais ou virtuais e compartilhar o que sentimos com o tanto de
poesia desse nobre amigo, cheio de música e de uma espiritualidade poética,
J. Cordeirovich.
Alessandro Ayudarte, ano de 2015.
quarta-feira, 31 de agosto de 2016
Desarranjando o tempo!
in O arranjador de palavras.
Trama
contra nós o poeta, tece a trama, põe a prova notívagos poemas.
Traçar
aqui o itinerário do tempo de um poeta, seria lugar comum, todos adjetivos
seriam poucos, nem isso nem aquilo. Cautela, ele está a organizar e arranjar
palavras.
Na gênese, no princípio era o caos
e ele habitava uma rua, sob um telhado qualquer, fel e mel no mesmo céu,
repetindo, tece a trama em nubívagos poemas.
Antrópico,
destila, reduz e retém o tempo. Reter o tempo no seu ínfimo tempo, - pois o
tempo também tem seu tempo -, suspenso no ar, caminha e desliza na dança da
luz, num átimo.
A
causa: um “A” e um “B”, gênese de tudo.
Como
responder-te? “Vais violar as primaveras verdejantes?” – como quer Maiakovski –
ou Vais organizar o caos? – como querem os Gregos -.
Ato I
Como
seria a minha vida se, numa noite a bordo do ônibus 255, Praça da Alegria,
movido pela curiosidade, tive a iniciativa de abordar um sabido poeta, morador a poucos passos
de casa.
Noite
adentro, a esquina da Goretti com a Agostinho Ferreira foi testemunha desse
encontro. Não tive a exata dimensão do que se‘avizinharia’ desse encontro, mas sei que ali
se instalaria a dimensão de um homem:
O
poeta, o prestidigitador nas horas vagas, o cantor e o ator. Artesão de todos
esses os ofícios.
Ato II
Consta
no Primeiro caderno do aluno de poesia José Carlos Cordeiro, ainda não o
“Arranjador’, escrito está:
“A”, com toda a glória de um “A”, viu ali o princípio do caos e o seu peso
abstrato.
Já o “B” tinha também a glória de um “B”, caos maior, juntou ao “A” o “B”, daí para o “Z” foi um pulo.
O
dervixe poeta, mal sabia que sentidos teriam, vai a esmo, ao léu, carrega as
tintas, derrama-lhe sentidos, dito assim parece fácil, mas e o caos?
Elegante
e generoso que é, põe de lado folhas caóticas, organiza o caos.
Tartamudeando,
portou palavra e lâmina, usou as duas – não necessariamente nessa ordem –
do bolso sacou lírios e vidros, ofertou-os sem pedir nada em troca, não há o
que entender, há o que pensar. Não me venhas com definições! Sou o que sou,
“Narciso dos pretos.”
Ato III
Alumbramento
é o que há e reside em O Arranjador de palavras.
Ato IV
“Ela
ficou a pensar e a pensar eu também me pus”
Ambos,
poeta e poesia gladiaram os sentidos do pensar, degrau a degrau, verso a verso,
ouve-se música, ainda que a palavra tenha o cortante sentido, sai suave, de tão
leve flutua azulando o ar. O tempo! O tempo parou, repito, retém-se o tempo, o
instante fixa-se. Eis o instante! Foi-se, durou o que durou, mas a música ficou.
“...Perduro no âmbito das palavras
Nascidas
da falta
De
silêncio do nada”
Ato V (dos conselhos dos poetas)
O
velho poeta, aconselha: Encontrar uma janela favorita e ler até arderem os
olhos,
dos
teus poemas favoritos.
Um
poeta concreto, determina: Escalar até doer-te os pés,
dos
teus poemas favoritos.
Um
poeta métrico, calcula: Medir lágrimas e pesar sorrisos,
dos
teus poemas favoritos.
Ato VI
O
indelével “A”, persiste, o caos agora é alegoria, é só o “A”, o derradeiro “A”,
se assemelha ao primeiro, porém com a cor, a música e seus fabricos. Agricultor
e Arranjador de Palavras, soletradas no arado da garganta, semeadas em folhas,
são flores e seus perfumes, ditas a seu tempo, ao seu ritmo, são límpidas,
alimento aos olhos e ouvidos. A colheita é farta!
Bem-vindos
aos Arranjos, letra e música.
CELIO ANTONIO MANSO
terça-feira, 30 de agosto de 2016
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